Bruno Le Maire, ministro da Economia francês, se posicionou contra a venda do Carrefour à canadense Couche-Tarde, maior rede de lojas de conveniência e postos combustíveis do mundo, após esta ofertar 16,2 bilhões de euros pela rede de supermercados.
Em entrevista ao canal de TV France 5, Le Maire afirmou que é contra a aquisição do Carrefour pela Couche-Tard. “O que está em jogo aqui é a soberania alimentar do povo francês", disse. “A ideia de que o Carrefour possa ser comprado por uma empresa estrangeira... em princípio, não sou a favor”. A ação da rede na bolsa francesa fechou ontem em queda de 2,5%, atenuando o recuo mais forte de 7% após as afirmações de Le Maire.
Apesar da sinalização negativa do governo francês em relação à aquisição do grupo Carrefour pela Alimentation Couche-Tard, há um entendimento entre pessoas próximas às companhias de que é preciso analisar a proposta, e não “fechar de uma vez a porta” aos canadenses, diz uma fonte a par do assunto.
A Couche-Tard confirmou nesta semana o envio de uma oferta não vinculante de € 20 pela ação da rede francesa (totalizando US$ 20 bilhões). Nesse tipo de transação, a empresa pode aceitar ou rejeitar a oferta, e sinalizar que está aberta a uma melhora no preço ofertado - algo que pode ocorrer com o Carrefour, segundo alguns analistas. O governo francês tem o poder de barrar acordos de fusões e aquisições.
“O tom do ministro é compreensível analisando como a França pensa essas questões, e não tem que ser levado tão ‘a ferro e fogo’. A percepção de que será uma união de ativos com baixa sobreposição, o que pode evitar demissões em massa, é algo positivo. Por isso, o que foi dito pelo ministro não é um completo ‘banho de água fria’”, disse uma fonte ao Valor
O Carrefour emprega 320 mil pessoas no mundo, sendo pouco mais de 100 mil na França - o maior empregador privado do país. Em 2019, o presidente Emmanuel Macron perdeu terreno nas eleições parlamentares para o partido nacionalista de JeanMarie Le Pen e em 2022 há eleições presidenciais.
Na operação global, os três principais acionistas do Carrefour, as famílias Moulin, Arnault e Diniz (do empresário Abilio Diniz) têm 23% das ações da empresa, mas não há bloco de controle e todos têm duplo voto com suas ações, pois são sócios da rede há mais de dois anos, o que dá esse direito. Considerando o preço que pagou para ser sócio do Carrefour e o valor da oferta do grupo canadense, Bernard Arnault, dono do grupo de luxo LVMH, pode ser um dos que têm mais a perder.
Quando negociou sua entrada no Carrefour, em 2007, a ação era cotada na faixa de € 50. Apesar disso, segundo uma fonte ouvida na terça-feira, Arnault estaria aberto a avaliar a proposta da Couche-Tard. “É sabido que voltar a esses € 50 no curto prazo, mesmo nas projeções dos bancos mais otimistas, é algo irreal”, diz essa fonte. No caso de Abilio, numa das operações de compra do papel, em 2016 (foram diferentes tranches), a ação variava entre € 22 e € 24.
Fonte: Valor Econômico
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