O GPA, dono das redes Pão de Açúcar, Extra e Assaí, acelerou projetos nas áreas alimentar e digital após a crise gerada pela pandemia, e manteve o atual plano de venda de ativos no valor de cerca de R$ 3 bilhões. Além disso, anunciou a entrada da empresa no terceiro trimestre na área de “marketplace” alimentar (shopping virtual).
A varejista ainda informou ontem que não reduzirá os planos de investimentos de 2020, mas adiou conversões em bandeiras de lojas para o segundo semestre.
As informações foram prestadas em teleconferência sobre o balanço do primeiro trimestre, que no Brasil mostrou alta de 14,7% na receita líquida, para R$ 14,5 bilhões, após um março favorecido pela demanda após a pandemia. Mas despesas geradas com reestruturação afetaram os resultados. De janeiro a março, houve prejuízo consolidado de R$ 109 milhões, versus lucro de R$ 190 milhões em 2019.
“Março foi o melhor mês do primeiro trimestre e em abril e maio vimos uma tendência positiva. [Há] crescimento nas vendas de dois dígitos e não tivemos o ‘efeito rebote’ nas vendas”, disse Jorge Faiçal, presidente do multivarejo (que inclui Pão de Açúcar e Extra).
Por conta desse cenário, de demanda forte e espaço para crescimento maior do on-line após a pandemia, o GPA entende que não cabe uma revisão de investimentos do ano - a estimativa é que fique entre R$ 1,6 bilhão e R$ 1,8 bilhão. “Antecipamos projetos do on-line de 2021 ara 2020”, disse Faiçal. “No on-line são maiores as possibilidades de se antecipar, para o curto prazo, as estratégias que existiam de longo prazo”, completou Peter Estermann, CEO do grupo
A empresa entrou em abril no segmento de venda de pratos prontos, concorrendo com restaurantes, por meio da criação de quatro “dark kitchens” (cozinhas para produção de refeição para entrega) em lojas do Pão de Açúcar. Isso ocorre num momento em que cresce a demanda por consumo em residências. Há potencial para ter essas cozinhas nas lojas do modelo mais moderno da rede (chamada geração sete), que somam 43 pontos.
“As mudanças de comportamento do consumidor vieram para ficar e nossas decisões terão que passar por essa nova realidade”, disse a analistas Ronaldo Iabrudi, co-vice-presidente do conselho de administração do GPA.
A respeito do projeto envolvendo o marketplace, Estermann evitou dar maiores detalhes, mas afirmou que a empresa tem contatado varejistas que possam ter lojas nessa nova plataforma de venda online da companhia. Nesse modelo, as varejistas são remuneradas com um percentual sobre a venda.
Neste momento, a B2W tem uma operação por meio do SuperNow, site que hospeda e faz a entrega a diferentes supermercados. Nesta semana, a B2W informou que o grupo BIG (ex-Walmart) fechou acordo com a empresa para ter loja on-line na sua plataforma.
Sobre o plano de venda de alguns ativos, como lojas, postos e drogarias, informado em fevereiro, o GPA diz que não há urgência na venda, e afirma que isso não ocorre por questões de liquidez neste momento de crise. “Os investidores estão mais cautelosos, mas o mercado tem liquidez para bons projetos, e estamos num ativos potenciais para isso [venda] também”, disse Christophe Hidalgo, diretor financeiro.
Eram pouco mais de R$ 6 bilhões em caixa do grupo em março, versus R$ 2,3 bilhões um ano atrás. Mas a dívida líquida cresceu, como analistas já previam (por causa de operações financeiras para a compra do grupo colombiano Éxito), passando de R$ 4 bilhões para R$ 11,2 bilhões no período. Nesse cenário, a relação entre dívida líquida e lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda) passou de uma vez de janeiro a março de 2019 para 2,5 vezes neste ano.
“Não é um índice de alavancagem alto, mesmo tendo subido, ainda mais considerando os níveis baixos de juros que estamos agora”, diz o diretor financeiro.
Ontem, analistas destacaram em relatórios como ponto positivo do balanço o desempenho forte do Assaí, dos aplicativos de entrega e a aceleração do Éxito. Como aspecto negativo, mencionaram a margem bruta do braço de supermercados e hipermercados. Durante a teleconferência, eles buscaram entender também o aumento de despesas de reestruturação nos números. A ação ON do GPA fechou em queda de 6,26%, para R$ 59,90, segundo maior recuo do Ibovespa.
A empresa disse que na linha do balanço de “outras receitas e despesas” somou uma despesa de R$ 273 milhões, principalmente relacionada a gastos com a integração dos ativos América Latina (a empresa tornou-se controladora do Éxito) e reestruturação de operações no Brasil, com fechamentos e conversões de lojas.
Essas conversões de unidades, que ocorrem há alguns meses (como os pontos do Extra Supermercados virando Mercado Extra) devem se concentrar na segunda metade do ano, disse ontem a rede.
A receita líquida total (GPA e Éxito) de R$ 19,7 bilhões veio em linha com o esperado pelo BB Investimentos, beneficiada pela incorporação da Éxito no resultado. Mas a margem bruta de 21,1% ficou 1,4 ponto percentual abaixo do esperado, diante da queda de 3,5 pontos da margem bruta da divisão Multivarejo, para 25,1%, disse ela.
A empresa disse a analistas que essa queda refletiu um início de ano mais fraco nesse braço, mas que esse índice vem em processo de recuperação deste então.
Segundo Faiçal, o aumento da participação da rede Pão de Açúcar nas vendas, após a corrida de cliente às lojas, deve melhorar a rentabilidade da unidade.
Segundo os analistas, o Assaí novamente apresentou resultados operacionais robustos, com alta de 23,4% na receita líquida e de 33,6% no Ebitda. A rede de atacado Assaí ganhou 2,5 milhões de clientes no primeiro trimestre e, após o isolamento social, teve “sete dias parecidos com vendas de véspera de Natal”, disse na teleconferência Belmiro Gomes, presidente da cadeia.
Fonte: Valor Econômico
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