Danone faz reformulação da gestão do grupo
24/11/2020 às 09:45

A empresa francesa de alimentos Danone cortará até 2 mil empregos, ou 2% de sua força de trabalho, como parte de uma reorganização destinada a dar mais poder aos gerentes nacionais e aumentar a eficiência para resistir à pandemia. A fabricante dos iogurtes Activia informou que as mudanças permitiriam uma economia de € 1 bilhão até 2023 e prometeu que em 2022 sua margem operacional recorrente voltaria aos níveis anteriores à covid, de mais de 15%.

A notícia foi divulgada um mês depois de seu CEO, Emmanuel Faber, ter anunciado a reformulação da gestão do grupo, assim como planos de vender unidades com baixo desempenho e cortar sua carteira de produtos. Tomadas em conjunto, as iniciativas mostram como Faber busca combater uma desilusão crescente entre os investidores que levou as ações a uma queda de 30% este ano.

Em entrevista ao “Financial Times”, Faber classificou a nova meta de margem operacional como a mais ambiciosa que a Danone já estabeleceu, mas admitiu que alguns investidores podem ter dificuldades em acreditar nela, dada a volatilidade desencadeada pela pandemia da covid-19.

Ele disse que “nunca houve um momento em que fosse mais difícil convencer o mercado sobre nossas perspectivas de longo prazo”, dada a incerteza contínua em torno da macroeconomia. “Mas estamos tentando ser transparentes. Precisamos ser mais duros com a margem de antes para criar espaço de manobra e investir.” E acrescentou: “Sou extremamente sério a respeito de levar a margem para a faixa dos 15% a 19%.”   

 Desde que a pandemia começou, a Danone tem se saído pior do que outros grupos de bens de consumo com os quais compete, em parte por causa dos produtos que vende. Ao contrário da Reckitt Benckiser ou da Procter & Gamble, a empresa não comercializa produtos de higiene e limpeza, que têm sido os campeões de vendas desde que a covid-19 eclodiu.

Sua unidade de águas minerais sofreu com o fechamento de restaurantes e com a adoção do ‘home office’, o que causou uma contração de 17% nas vendas nos primeiros nove meses. A empresa também não se beneficiou muito com o retorno dos consumidores às marcas familiares de alimentos industrializados que impulsionou a demanda em empresas como Kellogg’s e Kraft-Heinz.

Além disso, a Danone tem problemas não relacionados à covid, como a fraca demanda na sua unidade de fórmulas para bebês por causa da queda das taxas de natalidade, especialmente na China.

A situação deixou Faber às voltas com o encolhimento das vendas e uma margem comprimida este ano. As vendas caíram 3,6%, para US$ 12,2 bilhões no primeiro semestre, enquanto a margem perdeu 72 pontos-base, para 14%. A nova estrutura organizacional mudará o foco para áreas geográficas em vez de categorias de produtos. Rivais como a Nestlé seguem já faz tempo uma estratégia regional, mas ainda não se sabe se isso valerá a pena para a Danone, que é muito menor e tem um portfólio de produtos mais restrito.

O analista da Bernstein Bruno Monteyne expressou preocupação com a possibilidade de que o novo plano possa causar transtornos à Danone. “Antes estávamos preocupados com o crescimento estruturalmente baixo nos mercados [da Danone], e agora também temos de nos preocupar com um longo período de turbulência organizacional”, escreveu ele em uma nota. “Essas são mudanças importantes que absorverão muita energia empresarial por pelo menos 12 a 18 meses.”

Faber rebateu a ideia de que a reorganização e o corte de custos seriam prejudiciais à companhia. “A equipe que trabalha nisso tem um bom histórico de execução desse tipo de projetos sem prejudicar o desempenho e nós temos procedimentos estabelecidos fortes”, disse.

 

Fonte: Valor Econômico

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