O mercado brasileiro de cerveja encolheu 2% em volume de vendas no ano passado e, para este ano, a expectativa é de um crescimento de 2,5%, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil). O Bradesco BBI estima que entre 2018 e 2022 o mercado vai crescer, em média, 2% ao ano. Para ultrapassar esse ritmo, as indústrias terão que fazer adaptações na oferta de cervejas especiais e na distribuição.
A Ambev precisaria reforçar a oferta de cervejas especiais e avançar nas vendas para o varejo (como supermercados, hipermercados e atacarejo). A Heineken teria de avançar sobretudo na distribuição em bares e restaurantes.
O Bradesco BBI estima que as vendas de cervejas especiais no Brasil crescerão, em média, 10% ao ano entre 2018 e 2022, superando a média do setor. No primeiro semestre de 2018, essa diferença já foi notada. No período, as vendas de cerveja da Ambev no Brasil recuaram 3,6% em volume. Já as vendas de cervejas premium - que incluem marcas como Budweiser, Stella Artois, Corona, Serramalte e Original - cresceram dois dígitos.
A Heineken, por sua vez, informou que as vendas da marca Heineken no Brasil cresceram dois dígitos. A companhia não forneceu detalhes sobre o desempenho das outras marcas com as quais opera no país, como Amstel, Sol, Desperados, Schin, Eisenbahn e Devassa.
Leandro Fontanesi, analista de bebidas do Bradesco BBI, considera que a Heineken está mais bem posicionada para se beneficiar da tendência de aumento do consumo de cervejas premium no país. Ele estima que as marcas premium representem hoje 13% do portfólio da Heineken. Na Ambev, essa participação é de 11%.
Outra fonte importante de expansão são as vendas para o varejo (como supermercados, hipermercados e atacarejo). De acordo com o estudo, o varejo representa 38% das vendas de cerveja no Brasil, comparado a 78% no México, 85% na Argentina e 56% nos Estados Unidos. O banco estima que o varejo poderá representar 41% do volume total de vendas de cerveja no país até 2023.
Para a Ambev, o varejo representa em torno de 40% de suas vendas. Para a Heineken, a participação é em torno de 70%. "Dado que a Heineken agora tem uma posição dominante no segmento, acredito que a empresa pode se beneficiar da tendência de aumentar a participação, podendo negociar melhor espaço na prateleira para suas marcas", disse Fontanesi, em relatório.
Já em relação às vendas em bares, o avanço da Heineken no mercado dependerá de uma decisão a respeito do formato de distribuição que será adotado. Em julho de 2017, a companhia anunciou que encerraria em novembro um contrato de distribuição que mantinha com a Coca-Cola Femsa, que estava previsto antes para ser encerrado em 2022.
A intenção era usar a estrutura de distribuição que foi herdada da Brasil Kirin, com a aquisição da empresa em fevereiro, por R$ 2,2 bilhões. A CocaCola Femsa questionou a decisão. As duas empresas discutem em uma câmara de arbitragem um acordo para decidir sobre a distribuição.
A Heineken informou que, em compensação, poderia pagar em torno de US$ 500 milhões para as distribuidoras da Coca-Cola. "A disposição da Heineken de pagar uma taxa tão alta para desenvolver sua própria rede de distribuição é uma indicação de que a empresa vê fortes oportunidades de crescimento nos próximos anos para o Brasil", afirmou Fontanesi.
A rede de distribuição da Brasil Kirin atende 600 mil pontos de venda, ante 1 milhão de pontos de venda atendidos pela Ambev. O Bradesco BBI estima que a Heineken resolverá sua pendência com a Coca-Cola Femsa ainda neste ano. Depois, levará de dois a três anos para estabelecer uma forte rede de distribuição no Brasil.
Segundo Fontanesi, a Heineken adotou uma estratégia similar na África do Sul, quando pôs fim ao acordo de distribuição que mantinha com a Diageo, em 2015. Desde então, as vendas da companhia no país crescem dois dígitos por ano, segundo os balanços da própria Heineken.
A Ambev, por sua vez, mantém seu próprio sistema de distribuição direta no Brasil. Desde a fusão da Brahma-Antarctica, anunciada em 1999, a empresa tem reduzido o número de distribuidores terceirizados de 400 para 148. O banco estima que a companhia distribua diretamente 75% da sua produção no Brasil.
(Fonte: Valor Econômico)
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