O Carrefour deve investir R$ 1,8 bilhão no Brasil no ano que vem, mesmo valor previsto para este ano, informou o comando do grupo. A maior parte dos recursos será voltada para expansão das operações e terá foco em dois negócios: Atacadão e Carrefour Market, rede de supermercados recém-lançada pelo companhia.
Inaugurado no fim de 2017, o Carrefour Market é um modelo de loja de menor porte - são 450 m2 , em média, em comparação com 1,5 mil m2 do Carrefour Bairro. Hoje há cinco unidades em funcionamento no país. Para o ano que vem estavam previstas inicialmente mais dez lojas, mas a projeção foi revisada para cima: devem ser mais de 20 inaugurações, segundo o Valor apurou.
"Com o Carrefour Market, temos portfólio um pouco mais completo que o do Express, com frutas, verduras e legumes, e também mais serviços", disse Sébastien Durchon, diretor financeiro, em entrevista na sede do grupo, em São Paulo. No formato Carrefour Express, com 122 lojas no país, as unidades têm cerca de 200 m2 , em média.
Em relação ao Atacadão, pelo segundo ano consecutivo, serão 20 novas lojas abertas em 2019. Este número era previsto no início do ano. Com base no gasto médio anunciado por unidade, os 20 pontos equivalem a investimento ao ano entre R$ 800 milhões e R$ 900 milhões. No Carrefour Market, as aberturas de 20 lojas somariam entre R$ 100 milhões e R$ 200 milhões, calculou o Valor, considerando o gasto médio por unidade.
O atacarejo é, de longe, o negócio que mais cresce - 7% até junho, ante 3% dos supermercados e hipermercados - e o que mais recebe recursos do grupo. Mas é também o de menor margem bruta - 15% contra 25% das lojas de varejo.
"Com esse ritmo de iniciativas envolvendo Atacadão e Market, demos uma segurada no modelo do Carrefour Express e isso deve continuar no ano que vem. Não dá para fazer tudo ao mesmo tempo", afirmou Durchon.
Em 2018, até junho, foi inaugurada uma loja do Express - no ano passado foram 50 - além de 4 do Carrefour Market e 10 do Atacadão. A empresa fechou 2 hipermercados. No total, o grupo Carrefour tem 652 pontos no país.
A escolha dos formatos envolve uma série de fatores. Um deles tem a ver com a busca de retorno mais rápido em períodos de economia fraca. E também tem relação com o próprio vigor menor das lojas de vizinhança. "Com a manutenção no nível de investimentos das redes, não há folga nos orçamentos. Isso pressiona a busca por lojas de retorno mais imediato", diz Manoel Antônio de Araujo, sócio da consultoria Martinez de Araújo.
O Carrefour vem trabalhando de forma mais orientada para elevar a rentabilidade do braço de varejo, que caiu quase dois pontos até junho, para 24%.
O consultor lembra ainda que o Carrefour Market tem pequena base de lojas, e para ser rentável, o modelo tem que ganhar escala.
Após um período de inaugurações aceleradas a partir de 2014, o modelo de lojas de vizinhança - que inclui Carrefour Express, Minuto Pão de Açúcar e Minimercado Extra, estes dois últimos, do GPA - perdeu parte do fôlego no varejo brasileiro. No ano, ainda cresce acima da média das empresas, mas abaixo do que avançou no passado, na avaliação de consultores. É considerado um formato complexo e caro em termos logísticos.
Para 2019, o Carrefour deve montar um orçamento considerando expectativa de ligeira redução nos índices de desemprego - "para nós, desemprego é mais determinante nas projeções do que inflação ou PIB", disse o diretor - e melhora no ambiente de deflação.
Para Durchon "a fase da deflação acabou" e, como já disse o presidente do grupo no país, Noël Prioux, em entrevista ao Valor, em maio, "um pouquinho de inflação não faz mal, pode ser até necessário". É que a forte deflação de alimentos, que fez esses preços recuarem 4,85% em 2017, jogou para baixo a receita dos supermercados e hipermercados. Eventuais ganhos em volume não compensaram a queda abrupta em preços.
"A deflação começou a virar pequena inflação em junho para julho, em 0,2% ou 0,3% positivo. Estamos considerando para o ano inflação de 3,5% a 4%", disse Durchon. Com isso, as estimativas de receita para 2018 e 2019 acabam sendo mais positivas.
"Não esperamos nenhum aumento muito forte em volume em 2019. Ainda lidamos com incertezas políticas e o quadro do ano que vem depende, em parte, das eleições. Os ganhos em receita devem vir do fim da deflação e de algum aumento pequeno em volume vendido", acrescentou Durchon.
Sobre os investimentos do Carrefour, a soma estimada de R$ 1,8 bilhão para 2019 está no mesmo patamar previsto para 2017 e do desembolsado em 2016. O mercado aguarda o anúncio dos investimentos do concorrente Grupo Pão de Açúcar, e a tendência é que se mantenha no mesmo nível projetado para 2018, em torno de R$ 1,4 bilhão, estimam analistas.
A abertura de capital do Carrefour no país ocorreu em julho de 2017, com a ação saindo a R$ 15 - na sexta-feira, o papel fechou a R$ 14,74. Há efeito da maior volatilidade do mercado no ano e o fato de o IPO ter ocorrido em período de crise, mas a própria empresa considera outros efeitos nesse número. Desde janeiro, a ação caiu cerca de 2% (Ibovespa subiu 4%).
"Nem tudo está neste preço, como por exemplo, o nosso banco [Banco CSF]. Somos uma das únicas varejistas com banco próprio e essas resultados entram em nosso consolidado mas nem sempre o mercado está precificando", disse o diretor financeiro. (Fonte: Valor Econômico)
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