A Bimbo, uma das maiores fabricante de pães industrializados do mundo, chegou ao Brasil em 2001, quando comprou a Pullman e a Plus Vitta e passou a liderar o mercado. Em 2010, a operação brasileira disputava com a China o posto de negócio de maior expansão no grupo. Mas, depois disso, começou a perder dinheiro. A companhia, então, mudou a estratégia: reduziu o portfólio, fechou fábricas, aumentou a produtividade e parou de disputar o consumidor pelo menor preço.
O comando do grupo, na Cidade do México, acompanhou esse processo de perto. "A operação no Brasil estava perdendo dinheiro. A concorrência estava muito forte e o preço do pão no Brasil era o mais baixo da América Latina", disse Gabino Gomez, vice-presidente executivo do grupo. Segundo ele, a situação no Brasil mudou em 2017, já sob o comando de Bernardo Serna Gamez.
Esse executivo, que já havia chefiado as operações da Bimbo na Argentina e na Colômbia, assumiu o negócio no Brasil em janeiro de 2016. Antes disso, em 2015, a companhia fechou duas fábricas, em Belo Horizonte e Salvador.
O objetivo era agrupar a produção em determinados centros, em unidades mais eficientes e com estrutura logística mais adequada para a distribuição e entrega dos produtos. Assim, a Bimbo ficou com seis fábricas, em cinco Estados - duas em São Paulo, na capital e em Mogi das Cruzes; no Rio de Janeiro, em Brasília, em Jaboatão dos Guararapes (PE) e em Gravataí (RS).
Serna Gamez diz que busca um processo de melhoria contínua para deixar a operação no Brasil sustentável e mais produtiva. Diante de um ciclo fraco da economia, ele enxugou o portfólio entre 10% e 15%, para cerca de 120 produtos. Ele nota que a economia e o mercado de pães industrializados passam por uma desaceleração. "Mas o Brasil vai voltar", diz.
Por isso, o executivo tem feito investimentos nas fábricas, para modernizar o processo produtivo. Serna Gamez informa que o valor investido equivale a cerca de 5% das vendas. A Bimbo não informa o valor faturado no Brasil. Fontes do mercado estimam que fature, em média, R$ 1,5 bilhão por ano.
No mundo, a receita líquida da Bimbo no ano passado foi de US$ 14 bilhões, com lucro líquido de US$ 300 milhões. Em pesos mexicanos, no segundo trimestre deste ano, as vendas do grupo cresceram 11,2% - na região onde o Brasil está inserido o aumento foi de apenas 1,2%. Mas foi nessa região onde o lucro bruto cresceu mais.
Assim como outras fabricantes de alimentos, a companhia tem mudado o portfólio, em busca de produtos que o consumidor entende que vai fazer bem à sua saúde. A Bimbo vem apostando na tendência "clean label", ou rótulo limpo, em uma tradução literal. O produto é fabricado com poucos ingredientes, todos conhecidos do consumidor, e informados em um rótulo que seja fácil de entender. A ideia é atingir o público, em geral mais jovem, que vem rejeitando alimentos muito processados. A linha de pães Nutrella, carro-chefe da Bimbo, adotou o "clean label" há três meses com a marca Viva.
Segundo Serna Gamez, a resposta tem sido positiva. "As linhas de pães integrais, de perfil mais saudável, são as que têm maior taxa de crescimento nas vendas", diz. Além de Nutrella e Pullman, o grupo é dono das marcas PlusVita, Ana Maria, Rap 10 e Crocantíssimo.
"Globalmente, a Bimbo trabalha para 'limpar' seus rótulos. É um esforço para tornar os produtos mais saudáveis, com menos aditivos químicos", diz Bruna Tedesco, diretora de marketing, inovação, pesquisa e desenvolvimento da Bimbo no Brasil. Ao mesmo tempo, vem reduzindo os níveis de açúcar, sódio e gorduras saturadas de seus produtos.
Por ano, o grupo mexicano investe globalmente 1% da sua receita anual em pesquisa e desenvolvimento de produtos, o que equivale a aproximadamente US$ 140 milhões por ano. No Brasil, é aplicado um percentual semelhante.
A Bimbo tem procurado fabricar produtos de valor agregado mais alto para acelerar a expansão da receita. O tempo para desenvolver produtos ficou menor. Caiu de um ano e meio para seis meses. Isso ocorreu um ano após a chegada de Serna Gamez.
A subsidiária brasileira tem autonomia para criar produtos localmente. E, segundo seu presidente, 15% do faturamento tem vindo de novos produtos. A diretora diz que a Bimbo lança, em média, 15 produtos por ano no Brasil. De acordo com a diretora, produtos menos rentáveis são tirados do mercado para que a companhia opere com uma carteira de itens mais enxuta.
Na capital paulista, a empresa mantém, desde 2007, um laboratório para testar e desenvolver produtos. Opera com 14 pesquisadores e passa por reforma. Vai receber novos equipamentos e salas para fazer testes cegos com consumidores. A expectativa da companhia é concluir a reforma em seis meses. "Com o ambiente de provas, será possível desenvolver os produtos com mais velocidade", diz Bruna.
De acordo com Bruna, entre 15% e 20% do portfólio de produtos da Bimbo no Brasil foram lançados há menos de dois anos. "O brasileiro é um consumidor afeito a novidades", diz a executiva.
No laboratório, a companhia também testa produtos lançados pela Bimbo em outros países. É o caso do pão da marca Artesano. Considerado pela matriz mexicana um sucesso de vendas, o Artesano foi lançado há dois anos e meio na Colômbia e estreou no mercado brasileiro em 2017.
Entre 65% e 70% das vendas da Bimbo no Brasil são de pães. Segundo a consultoria Euromonitor International, a Bimbo lidera o mercado de pães industrializados, com 34,4% das vendas. Em seguida estão a Wickbold, com 21,2%, e a Panco, 14,5%. No mundo, o mercado de panificação, estimado em US$ 400 bilhões, é muito fragmentado. A Bimbo é a maior empresa, com 3,2% das vendas.
Fora da categoria de pães, a companhia colocou no mercado no fim de agosto uma linha integral do salgadinho assado Crocantíssimo. Também reformulou a linha de bolos Plus Vita, adotando uma tecnologia desenvolvida no Canadá para deixar os bolos mais fofos e menos espessos. E vai competir na categoria de brownies.
Se for considerado o mercado de alimentos industrializados, a Bimbo tem quase 6% das vendas, atrás de empresas como Nestlé, Mondelez International, Unilever, Danone e Kraft-Heinz.
No mundo, a Bimbo possui 175 fábricas, em 24 países. Emprega mais de 133 mil pessoas. No Brasil, são 4 mil funcionários, sendo 1,2 mil vendedores. (Fonte: Valor Econômico)
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