A demanda aquecida pelas cervejas especiais no país provoca falta de garrafas para as vinícolas. De acordo com o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), parte das vinícolas decidiu fazer uma produção adicional no último trimestre de 2018, para atender a demanda que estava mais forte do que o previsto. Mas, como as fabricantes de garrafas já estavam operando com 100% da capacidade, não foi possível aumentar a produção.
O caso mais emblemático foi o da Vinícola Aurora, que lidera o mercado de vinhos no país, segundo a Euromonitor International. Hermínio Ficagna, diretor-superintendente da Aurora, disse ao Valor que a vinícola quis fazer uma produção adicional de vinho, mas não conseguiu fechar a encomenda extra de garrafas.
"As vendas de espumantes poderiam ter crescido 25% se tivéssemos conseguido comprar as garrafas. Mas acabamos fechando o ano com crescimento entre 15% e 20%", afirmou Ficagna. As vendas totais da vinícola no ano cresceram 10%, chegando a 60 milhões de litros.
O executivo acrescentou que precisou importar garrafas da Argentina e do Chile para dar conta da demanda, que segue aquecida. Para 2019, a Aurora prevê um volume de produção similar ao de 2018, mas com aumento de 10% em receita, com o reajuste de preços. Em 2018, a receita somou R$ 540 milhões, com alta de 5,5%.
A Vinícola Peterlongo informou que a falta de garrafas persiste. Luiz Carlos Sella, sócio-diretor da Peterlongo, disse que deixou de exportar seis contêineres de vinho para a Colômbia por falta de garrafas. "Tivemos uma queda nas vendas totais de 20%, basicamente por falta de garrafas", afirmou Sella. A companhia previa no início de 2018 crescer 20% em volume, chegando a 6 milhões de litros.
A Peterlongo compra garrafas da Owens-Illinois. Esta empresa, segundo Sella, informou que reativaria uma fábrica no Brasil e poderia recorrer à unidade da Argentina para atender a demanda local.
Oscar Ló, presidente do Ibravin, disse que casos como esses se repetem no sul do país. "O setor teria vendido mais em 2018, mas pela dependência de poucos fornecedores, as vinícolas enfrentaram essa dificuldade", afirmou. O Ibravin estima que as vendas de vinhos, espumantes e sucos tenham fechado 2018 com aumento de 15%, para 417 milhões de litros. Para 2019, a previsão é de um desempenho de vendas parecido com o de 2018. A produção nacional responde por cerca de 61% da oferta total de vinhos no país.
Outro desafio para as vinícolas é incorporar o aumento nos custos. O preço do vidro subiu 40% no ano passado. Esse aumento não foi repassado aos preços do vinho, que subiram em linha com a inflação. Em janeiro deste ano, as indústrias de vidro fizeram reajuste, de 11%. Os preços das uvas também subiram em janeiro, cerca de 12%.
De acordo com fontes do setor, as vinícolas compram garrafas de três fornecedores: a Owens-Illinois, que tem 55% do mercado, a Verallia, que tem 28%, e a Vidroporto, com 17%.
A Owens-Illinois confirmou que faltou garrafa para atender as vinícolas. E acrescentou que faltou produto também para as cervejarias. "Fizemos o possível para atender a demanda. Enquanto o mercado de vidro cresceu entre 3% e 4% no ano passado, nós ampliamos a produção em 27%", disse Reinaldo Kuhl Junior, gerente de produto e marketing da Owens Illinois.
Kuhl Junior disse que a demanda por garrafas para cervejas especiais cresceu quase 35% em 2018 e a demanda ficou aquecida o ano todo. "Essa demanda continua muito forte. A prova disso é que estamos correndo atrás para ampliar nossa capacidade", disse o executivo. A Owens-Illinois reativou uma linha de produção na fábrica que possui em Vitória de Santo Antão (PE), elevando a produção em 65 mil toneladas, ou 300 milhões de garrafas por ano. O executivo disse que essa capacidade total será alcançada até o fim de março.
A Vidroporto, que tem fábrica em Porto Ferreira (SP), também viu crescer a procura no setor de bebidas. "Um dos motivos foi o aumento das encomendas de garrafas para marcas de cervejas premium. Realmente a procura superou a oferta e houve falta de garrafas para alguns segmentos", disse Edson Rossi, presidente da Vidroporto.
Segundo o executivo, trabalha com 100% da capacidade instalada. Em setembro, a companhia comprou uma fábrica em Estância (SE), que pertencia à multinacional Verallia e estava desativada. A fábrica tem capacidade para produzir 60 mil toneladas de vidro por ano. Rossi disse que, com a compra, vai ampliar em 30% a capacidade de produção neste ano.
Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), 54,6% da produção de cerveja no país é embalada em garrafas. Ao todo, mais de 2,4 bilhões de garrafas de cerveja são produzidas por ano. Fontes do setor estimam que as cervejas especiais representam 14% desse volume. (Fonte: Valor Econômico)
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