O que vem por aí no varejo supermercadista e na economia neste ano de 2022?
É fato que ninguém espera por facilidades, mas é igualmente verdade que o empresariado brasileiro está acostumado a enfrentar e superar crises, incertezas e os mais diversos desafios. Entretanto, há sinais de que melhores dias estão próximos.
Este novo ano reserva muitas expectativas, principalmente no campo político e econômico, sempre trazendo reflexos para o varejo. O que já é certeza é que, como é ano eleitoral será um período de incertezas, de planejar com mais atenção os investimentos tanto em expansão quanto na formação do mix. Afinal, como estará o consumidor ao longo de 2022? Com mais empregos? Com mais renda? Já livre da pandemia que castigou o mundo nos últimos dois anos?
O fim da pandemia do novo Coronavírus – aliás, talvez seja a principal expectativa para 2022, com o avanço da vacinação cobrindo praticamente 100% da população, e a consequente retomada dos diversos setores econômicos –, é o melhor sinal. Mas fica a torcida forte para que não haja uma recaída ou uma nova onda do vírus.
Para onde os investidores sempre olham, o Relatório de Mercado Focus, do Banco Central, mesmo com previsões, pode-se dizer, moderadas, joga alguma luz nesse caminho. Considerando o último boletim antes do fechamento desta edição, o de 10 de dezembro de 2021, as previsões indicam um crescimento da economia de 0,50% em 2022. Isso sobre um desempenho de 4,65% em 2021.
Os economistas normalmente usam a expressão “Ceteris Paribus”, que em Latim que significa algo como “se todo o resto se mantiver constante”, indicando que as perspectivas serão de mais estabilidade de preços no ano de 2022. Certamente uma boa notícia para o varejo supermercadista e para o consumidor em geral, tão penalizado pela inflação ultimamente. Para o Focus, o IPCA em 2022 deverá ficar em 5,02%, o que é menos da metade da inflação de 12 meses, até novembro, que foi de 10,74%, a maior para o período desde 2003. As projeções para a Selic são de 11,50% e o câmbio real/dólar em R$ 5,55.
QUESTÃO FISCAL
O economista Mauro Rochlin, professor de MBA da FGV, “e botafoguense” – como faz questão de deixar claro –, concorda com as projeções do Focus. Ele prevê, ainda, que a taxa de desemprego desça a 12% até o final de 2022. No entanto, uma melhora considerável na renda só virá em 2023, diz ele.
Por outro lado, o professor avalia que “o Brasil está muito barato” com o câmbio no patamar atual, o que pode incentivar os investimentos ex-ternos por aqui. Mas ele alerta: “O governo tem que estar preocupado com a questão fiscal”.
Porém, o próprio Rochlin analisa a dificuldade de se adotar uma política fiscal severa sem atender o “clamor social” por programas de socorro à população sem renda, como a ampliação dos auxílios pagos pelo governo federal.
ELEIÇÕES
Sobretudo num ano eleitoral, será difícil o governo ter essa severidade. Afinal, a eleição deverá impactar fortemente a economia do País neste ano. “Muitos gostariam de desassociar e economia e eleições. É impossível”, enfatiza o doutor em Ciência Política e professor da PUC Minas, Malco Camargos.
Ele detalha que será um ano em que a atividade produtiva no País estará dependente da campanha eleitoral. “A economia impacta as eleições, pois se o cidadão está satisfeito com o seu desempenho econômico e com o desempenho econômico do País, ele vota na situação; se está insatisfeito, ele vota na oposição”, ilustra.
De outro lado, analisa Camargos, as eleições impactam a economia também do ponto de vista de atração de investimentos. “O mercado financeiro faz previsões de chance de vitória de cada um dos candidatos e, a partir da expectativa, precifica o valor das ações, precifica as trocas que serão realizadas. Haverá sempre muita volatilidade em ano eleitoral”, prevê.
A boa notícia de que a inflação vai cair já é um alento para o setor produtivo, que poderá prever melhor como vai ser a atuação das companhias em um cenário de mais estabilidade. Mas a inflação vai mesmo cair?
INFLAÇÃO
O professor Rochlin, da FGV, em entrevista a GÔNDOLA e em artigo distribuído à imprensa no início de dezembro, garante que sim. Ele apresenta quatro fatores para justificar a tese. “A despeito da descrença geral, a taxa de inflação deve apresentar uma forte queda nos próximos meses. Quatro fatores embasam essa posição. O crédito caro é o primeiro motivo. A taxa Selic deve superar o pata-mar de 11% em 2022. O atual ciclo de alta tem afetado fortemente o custo dos empréstimos”, analisa.
Ele aponta como segundo motivo a taxa de câmbio estável, já que a moeda americana apresenta estabilidade na comparação anual e até em queda em relação ao pico de 2020. “Sendo assim, do lado cambial, o cenário também é positivo”.
A estabilidade no preço das commodities é o terceiro ponto, segundo Rochlin. “Os preços de matérias-primas estratégicas, como minério de ferro, soja, milho e petróleo, registraram recuos importantes no último trimestre”.
Para ele, considerando a ausência de choques externos no atual cenário, e ponderando o movimento mais recente dos preços, a possibilidade de um novo ciclo de alta se revela remota. “Junto a isso, previsões de uma boa safra no Brasil sugerem que a oferta de bens não duráveis estará suprida.”
CADEIAS GLOBAIS
O quarto fator é representado pela “robusta, ainda que lenta”, recomposição das cadeias produtivas globais. “Semicondutores, material eletroeletrônico, produtos químicos, laminados, fertilizantes e toda uma gama de bens intermediários cujos processos produtivos haviam sido interrompidos voltaram à produção, à plena carga. O impacto que essas cadeias de abastecimento sofreram, em termos de custos, tende a abrandar, o que deve aliviar pressões inflacionárias do lado da oferta”.
Por fim, ele analisa que o IGP-M “vem descendo ladeira abaixo” e o índice de preços ao atacado (IPA), que corresponde a 60% do IGP-M, depois de ter atingido o patamar de 50%, em maio de 2021, despencou para 26%, em novembro de 2021, no acumulado de 12 meses. “Essas quedas expressivas, resultado da recente redução no preço de importantes commodities, são o prenúncio do que vai acontecer com o IPCA. O arrefecimento dos preços na indústria terá forte reflexo nos balcões das lojas nos próximos meses, com impacto importante nos índices de preço ao consumidor. Em resumo: a inflação vai cair!”, assegura.
SETOR ESSENCIAL E RESILIENTE
“Temos a certeza de que vai ser mais um ano de muito trabalho no Grupo DMA. Vamos continuar crescendo e expandindo, abrindo lojas e gerando cada vez mais empregos.” A fala do diretor de Marketing do Grupo DMA, Roberto Gosende, resume bem como deverá ser a atuação dos supermercados neste ano: sempre com muito trabalho e otimismo e ciente das necessidades de um ramo essencial à vida das pessoas e à economia.
Assim como na DMA, segundo maior grupo supermercadista mineiro, em todo o segmento em Minas Gerais os investimentos em expansão, melhorias de lojas e ajustes para melhor atender ao cliente vão continuar. Grandes redes do Estado e pequenos supermercados já informaram essa intenção. A rede BH, maior do Estado e que teve forte expansão em 2021, também confirma que vai manter os investimentos em 2022.
O Mart Minas Atacado e Varejo, por ocasião do aniversário de 20 anos da rede, comemorados de 1º de setembro a 17 de outubro de 2021, também já havia adiantado a manutenção do ritmo de crescimento para 2022. “Dentro do nosso plano de expansão, pretendemos inaugurar mais dez unidades, em polos urbanos estratégicos de Minas Gerais, totalizando 60 lojas até o final do próximo ano”, disse na época o Diretor Comercial e de Marketing do Mart Minas, Filipe Martins. O Grupo ABC, sediado em Divinópolis, também anunciou, ainda em novembro, a abertura de mais 10 unidades em 2022, com a primeira delas já em janeiro.
O Grupo Super Nosso divulgou, em novembro, o plano de expansão até 2030, que prevê, já em 2022, forte expansão. A previsão é de fatura-mento de R$4 bilhões (a estimativa de fechar 2021 com R$ 3,40 bilhões). Um grande passo para este ano é a expansão para o interior, onde o Grupo começa e investir. “Em maio, por exemplo, vamos inaugurar a primeira loja Apoio Mineiro fora da RMBH, na cidade de Curvelo”, afirmou na época o vice-presidente do grupo, Rodolfo Nejm.
DESAFIOS E OPORTUNIDADES
O Sócio-Diretor do Supermercados União, com cinco lojas em Araguari, no Triângulo Mineiro, Ismael Carrijo, avalia que a economia em 2022 vai trazer muitos desafios, mas também oportunidades. Ele acredita que o setor vai manter o crescimento neste ano, e para isso vai continuar investindo. “Temos a expectativa de um crescimento real de 10% em 2022, nas mesmas lojas”, projeta. Como pontos que podem contribuir com a melhora do cenário e do setor, Carrijo aponta fatores como o auxílio de R$ 400, pago pelo governo federal “para uma faixa expressiva da população”; a boa disponibilidade no Brasil de commodities e a economia voltando ao normal, com geração de emprego e renda. Cita ainda como um ponto altamente positivo que parte expressiva da população já está com a vacinação completa.
A mudança no comportamento da sociedade também poderá influenciar positivamente a economia e o varejo supermercadista em 2022. “Parte dos consumidores assimilou uma nova rotina de voltar a fazer comida em casa e de receber pessoas, o que aumenta o consumo no supermercado”, analisa. Ele lembra que pela rotina que o setor adotou de antissepsia nas lojas e por parte dos funcionários, os supermercados passaram a ser vistos como local ainda mais seguro.
É com essa expectativa positiva que a empresa está se preparando para sua expansão ao longo do ano, seja de forma orgânica ou até compra de novos pontos de vendas. “Sim, já estamos investindo em reforma e adequação de lojas e vamos continuar investindo pesado no próximo ano. Além de estarmos planejando a abertura e/ou aquisição de novas lojas”, confirma Carrijo.
Por outro lado, mesmo com expectativa positiva, ele avalia que há riscos que devem ser considerados, como a “sempre eminente possibilidade de um novo vírus”, que pode exigir novas adaptações, afastamento de funcionários e o “pavor” da população.
De forma geral, Ismael Carrijo acredita num crescimento sustentável da economia. “O País tem vários desafios. Porém suas instituições estão preservadas, mesmo com dificuldades; o setor agro e a pecuária estão muito fortes e com alta tecnologia de produção; a geração de emprego está crescente e existe hoje uma maior ‘adaptação’ ao vírus e consequentemente a novas variantes que possam surgir”.
Dentro da loja, Carrijo faz uma projeção de que categorias de produtos devem ter mais crescimento neste ano. Ele cita, por exemplo, os produtos pets, que, afirma, já é uma categoria crescente, e com a pandemia as famílias adotaram mais animais. As comidas prontas ou semiprontas, para levar, carnes e bebidas, pelo hábito maior do churrasco em casa com amigos e família, e os produtos naturais, são outras apostas.
REABERTURA DE OUTROS SETORES
O sócio-proprietário do Supermercado Pais e Filhos, com cinco lojas em Juiz de Fora e a sexta unidade já anunciada para este ano, Marco Antônio Fernandes, avalia que 2022 será um ano “desafiador” para o setor supermercadista, já refletindo o que foi, principalmente, o segundo semestre de 2021, em que a “sensação de pós-pandemia” fez com que muitos outros setores voltassem a funcionar.
Ele avalia que isso provoca concorrência maior no setor na tentativa de manter as vendas em patamares, pelo menos, parecidos com o período mais agudo da pandemia. “Na contramão, temos o consumidor, cada vez mais procurando ofertas, migrando para marcas mais baratas e, em determinadas camadas sociais, com o poder de compra reduzido. Além de tudo isso, temos um cenário de inflação, juros altos e crédito escasso”, pondera.
O grande “dever de casa” para o setor supermercadista, alerta Marquinhos, será se debruçar sobre os números e trabalhar pesado na redução de despesas e gestão do próprio negócio. “Mas não dá para ser pessimista, pois aprendemos sempre com as adversidades, e muitas vezes melhoramos o nosso negócio e encontramos grandes oportunidades para sairmos fortalecidos”, ressalta.
Esse argumento é parecido com o que pensa o proprietário do Supermercado J. Alves, com uma loja em Caratinga e outra em Manhuaçu, José Cláudio Alves: “Acho que a gente tem de ser otimista; vamos ter que aprender a lidar com as mudanças, com as crises”, diz ele. “Não é porque está escuro que vamos fechar as portas e dormir”, recomenda.
Matéria publicada originalmente na edição 302 da revista GÔNDOLA
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