Reportagem destaca a importância do iogurte no sortimento da loja, com dicas de operação da seção
16/08/2022 às 10:31

É mais fácil cortar a sobremesa que o prato principal. Esta frase, que volta e meia teima em se tornar presente na vida dos brasileiros quando se tem que conversar sobre cortes na lista de compras e definir o que é supérfluo no consumo das famílias, não está assustando mais quem produz e vende iogurte. Se em um passado mais distante ele foi um dos símbolos de status da classe C em ascendência, pelo sucesso de seu apelo como produto ideal para sobremesas e lanches, agora, principalmente depois da pandemia, conquistou o reconhecimento como aliado da saudabilidade.

De sobremesa, listado como supérfluo, passou a constar entre os itens menos sujeitos a corte. Em relatório do Centro de Inteligência do Leite (CILeite/Embrapa), divulgado em maio deste ano, são citados dados da Kantar que mostram que o produto está presente em 70% das cestas de compra dos brasileiros e que tem sido um dos itens que os consumidores estão demorando mais a abandonar em meio à crise econômica atual. Tudo isso sugere que o apelo de saudabilidade do produto tem surtido efeito sobre as vendas.

O CILeite/Embrapa monitora também relatórios de postagens no Twitter sobre produtos lácteos e identificou que, além de ter crescido o volume de postagens relativas a iogurte no período de 2021 a maio de 2022, a maioria delas é muito positiva. A hipótese é que no contexto da crise de saúde provocada pela pandemia de Covid-19, os consumidores têm buscado melhorar sua saúde por meio de atividades físicas e alimentação mais saudável. Nessa busca, os iogurtes se destacam dentre os lácteos por seus atributos nutritivos e funcionais, além da praticidade e conveniência, diz o CILeite.

Saudável

“Pode-se observar que a maioria das publicações sobre iogurte no Twitter tem um conteúdo positivo, ou seja, expressa apreciação pelo produto. Isso garante que a análise que está sendo feita reflete realmente o consumidor de lácteos, e não opiniões opostas ao setor. Portanto, na maioria das vezes, o conteúdo publicado apresenta desejo de consumir, prazer em consumir, vontade de comprar ou compras efetuadas, entre outras expressões positivas sobre os iogurtes comercializados no País”, avalia o relatório.

Os pesquisadores do CILeite avaliam que “isso reforça que, para os brasileiros, o iogurte é visto como um alimento saudável e coloca o produto em um patamar diferenciado frente a outros lácteos. Enquanto o leite fluido e a mozarela se consolidam como produtos mais populares e sofrem efeitos maiores de quedas de renda da população, o iogurte atinge um nicho de consumidores que se preocupa com a saúde e, por isso, se torna mais fiel e menos suscetível a trocas”.

Tendência mundial

O fenômeno de o iogurte ter assumido um novo papel, não se restringe ao Brasil. De acordo com um novo relatório da Innova Market Insights, este ano é provável que o valor de mercado global de iogurtes lácteos e não lácteos ultrapasse US$ 100 bilhões pela primeira vez. Na Espanha, 78% declararam que consomem iogurte e, como em outros países, 29% dos consumidores aumentaram o consumo de iogurte desde 2020, por motivo de saúde.

A Ásia é o maior mercado mundial do produto, com 43% das vendas em valor de iogurte, e também está vendo o maior crescimento. A região abriga os dois principais países individuais em termos de valor, com a China como líder e o Japão em segundo lugar, à frente do Brasil e dos Estados Unidos.

Na Unissul

A head de Inteligência de Negócio da Unissul, central de negócios com sede no Sul de Minas, Vânia Cristina Ferreira, confirma tudo o que as pesquisas e relatórios citados estão mostrando. “De fato, é mais fácil cortar a sobremesa que a refeição quando as coisas apertam e o iogurte deixou de ser sobremesa”, diz Vânia. “Em situações assim, o preço deixa de ser o mais importante na decisão, mas o custo-benefício de um produto”, explica a head, que soma à sua experiência na ampla área que envolve marketing, análise de mercado e estratégia comercial, o fato de ser nutricionista também.

Ela lembra que o iogurte e outros lácteos, realmente, estão assumindo novos papéis nesta busca geral por produtos funcionais. Até mesmo o leite fluido, que é a base da categoria em termos de volume de receita, tem aberto novos nichos vinculados à saudabilidade e à funcionalidade. “É preciso que o sortimento seja sempre atualizado e também é necessário que se consiga explicar ao consumidor essas novidades. Muitas vezes, ele ainda não está suficientemente informado sobre os benefícios que um determinado produto lácteo pode proporcionar”.

Vânia conta que nas negociações com fornecedores sempre busca mostrar a importância do apoio à evidência do produto no ponto de venda. Todo o esforço que se fizer para que o item seja reconhecido e entendido pelo shopper será recompensado, uma vez que o públicoalvo de produtos ligados à saudabilidade gosta de se informar e já domina um conjunto de informações suficientes para interpretar novas.

1

Cross inovador

A head tem inovado com algumas ações de cross merchandising muito interessantes. Aproveitando a parte do portfólio de iogurtes que ainda diz respeito a sobremesa, expõe os produtos na seção de rotisseria. E de olho no apelo nutricional e funcional, leva aqueles com essas características para a vizinhança das frutas. “É cada vez mais popular, principalmente entre os jovens, consumir uma salada de frutas regada a iogurte”, diz Vânia.

Ela também expõe, é claro, o portfólio completo na seção de lácteos. “A segmentação por categoria é muito importante e não pode ser prejudicada”, explica. Pelos seus cálculos, a categoria de lácteos representa 7% da receita nas vendas da empresa. A Unissul reúne 10 empresas supermercadistas. Ao todo, são 32 lojas, presentes em 20 cidades, sendo 18 do Sul

de Minas e duas (Socorro e Pinhalzinho) da região paulista vizinha. O faturamento da central está em torno de R$ 1,1 bilhão por ano.

Vânia reforça aos leitores de GÔNDOLA sua dica em relação à diversidade de produtos que há hoje na categoria de lácteos. Trata-se de um conjunto extenso de produtos, dos mais variados tipos, alguns deles com evidente apelo de funcionalidade – iogurtes e coalhada, por exemplo – e outros mais conectados aos aspectos nutricionais, como leite e várias bebidas lácteas. “As oportunidades são muitas. É preciso estar atento e fazer valer as oportunidades para encantar o consumidor ao contribuir para a sua saúde”, sugere.

Produto milenar

O iogurte faz parte da alimentação humana há milhares de anos. Há referências sobre o produto em registros de 6.000 anos antes de Cristo em escrituras na Índia.Ele chegará à Europa há 2.000 anos, passando antes pelo Oriente Médio. Com diversas versões um pouco diferentes, provavelmente assim que o iogurte foi descoberto em diferentes locais do mundo, tendo como origem o Oriente Médio e a Ásia Central.

Mas foi Stamen Grigorov, cientista búlgaro, o primeiro a detalhar a composição do iogurte. Pouco depois de seu casamento, em 1904, ele voltou da região de Trun, na Bulgária, para a Universidade Médica de Genebra, na Suíça, onde estudava. Trouxe consigo um pote de argila tradicional, chamado rukatka, contendo iogurte caseiro para examinar em seus estudos.

Um ano depois, conseguiu identificar a bactéria essencial que fazia fermentar o leite, transformando-o em iogurte. O microrganismo ficou conhecido como lactobacillus bulgaricus em homenagem ao cientista, ligando para sempre a Bulgária à sua produção. Além disso, os búlgaros têm diversos pratos tradicionais contendo iogurte e consomem esse alimento em grande quantidade.

Atualmente, os iogurtes geralmente são compostos de leite fermentado acidificado com bactérias bem definidas (Lactobacillusbulgaricus e Streptococcusthermophiles). O leite é testado, pasteurizado a 96°C e então resfriado até 43,5°C. Em seguida, a cultura de bactérias é adicionada e deixada para fermentar o leite por cerca de seis horas. Depois disso, o iogurte é refrigerado e embalado, pronto para consumo.

 

A reportagem impressa está na edição 309, de agosto de 2022, da revista GÔNDOLA.

(31) 2122-0500
Av. Barão Homem de Melo, 2.200, Estoril, Belo Horizonte - MG - 30494-080